quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

AI, QUE PREQUIÇA! NO CAMPO...



Com esse calor,

o trabalho que se dane,

e também adiemos

a vontade de fazer amor!


(Vincent Van Gogh - la sieste)








sábado, 9 de outubro de 2021

POR CAUSA DESTA CABOCLA...

Uma das estrofes mais bonitas e sensuais da música brasileira, de Ary Barroso e Luiz Peixoto, para curtir num domingo de preguiça:




“E quando ela na rede adormece
E o seu seio moreno esquece
De na camisa ocultar
As rolas
As rolas
Também morenas
Cobrem-lhe o colo de penas
Pra ele se agasalhar”


sábado, 8 de junho de 2019

A CIÊNCIA RECONHECE A PREGUIÇA COMO UM SINAL DE INTELIGÊNCIA



 (Felix-Vallotton)

O sofá te chama? Os seus Hobbies incluem tirar uma soneca à tarde e as maratonas de Netflix? Você também se considera ser um gênio? Um novo estudo confirma o que as pessoas preguiçosas suspeitavam o tempo todo. Os indivíduos preguiçosos são, de fato, mais pensativos e inteligentes do que nossos homólogos altamente ativos. 



Um estudo publicado no Journal of Health Psychology sugere que os indivíduos com alto QI tendem a gastar menos tempo envolvendo atividade física. Pesquisadores da Universidade da Costa do Golfo da Florida deram a um grande grupo de estudantes um teste projetado para medir sua necessidade de atividade cognitiva. Eles usaram isso para identificar trinta estudantes que expressaram um forte desejo de se envolver em um pensamento profundo, bem como trinta estudantes que preferiam evitar atividades mentalmente difíceis. Então, os pesquisadores deram a cada sujeito do teste um dispositivo para vestir em seu pulso que mede seu nível de atividade física na semana que vem. 



O grupo que se descreveu como “pensadores” estava determinado a ser muito menos ativo do que os “não pensadores” ao longo da semana. Curiosamente, nos fins de semana, seus níveis de atividade se aproximaram. Embora os pesquisadores não tenham podido explicar esse fenômeno, tenho uma teoria pessoal. É possível que os “não pensadores” se envolvam em atividades físicas habituais como parte de seu dia de trabalho normal, enquanto os “pensadores” não o fizeram. Nos finais de semana, os “não-pensadores” podem ter tirado uma pausa de sua rotina de ginástica regular, enquanto os “pensadores” estavam mais inclinados a participar de atividades recreativas e passeios sociais. 

(Virgilio Jatosti)

Esta conexão entre preguiça e inteligência é considerada como resultado da maneira que uma mente altamente inteligente funciona. As pessoas mais inteligentes tendem a ter uma maior capacidade de estimulação interna e uma inclinação para passar mais tempo no pensamento profundo. Enquanto as pessoas altamente ativas dependem de estimulação externa na forma de atividade, pessoas mais inteligentes simplesmente não precisam fazer isso. Nossas mentes podem manter um nível adequado de estimulação a partir do conforto de nossas poltronas gastas. 

 (Alexandre Cabanel - Phèdre)

Esta teoria é apoiada por pesquisas anteriores , o que sugeriu que as pessoas altamente inteligentes eram menos propensas ao tédio. Elas também achavam que as situações aborrecidas eram menos desagradáveis ​​e eram mais capazes de lidar facilmente com elas através do pensamento interno aumentado. Poderia ser então que os “não pensadores” se envolvem na atividade física como forma de escapar da tontura de seu mundo interior ? 

(Pierre Dubreuil)

Como o pesquisador principal, Todd McElroy , advertiu: “Em última análise, um fator importante que pode ajudar pessoas mais pensadoras a combater seus níveis de atividade média mais baixos é a conscientização. Consciência de sua tendência a ser menos ativa, juntamente com a consciência do custo associado à inatividade , pessoas mais pensativas podem optar por se tornar mais ativas ao longo do dia “. 




Fonte:

Traduzido de I heart intelligence

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

A DEGRADAÇÃO PELO TRABALHO, POR EMIL CIORAN








Os homens geralmente trabalham demais para que possam permanecer fiéis a eles mesmos. O trabalho: uma maldição que o homem transformou em volúpia. Labutar com todas as suas forças somente pelo amor da labuta, encontrar felicidade num esforço que não conduz a nada além de realizações sem valor, estimar que somente por meio do trabalho incessante se possa obter o que quer que seja - eis algo revoltante e incompreensível. O trabalho permanente e intenso embrutece, banaliza e torna impessoal. O centro de interesse do indivíduo desloca-se do seu meio subjetivo em direção a uma insossa objetividade; o homem se desinteressa então de seu próprio destino, de sua evolução interior, para se ligar a qualquer outra coisa: a obra verdadeira, que deveria ser uma atividade de permanente transfiguração, torna-se um meio de exteriorização que lhe faz abandonar o mais íntimo de seu ser. É significativo o fato de que trabalho tenha vindo a designar uma atividade puramente exterior: atividade em que o homem não se cumpre, mas cumpre. O fato de que todo mundo sente-se obrigado a exercer uma atividade e a adotar um estilo de vida que, na maior parte dos casos, não lhe convém, ilustra esta tendência ao embrutecimento pelo trabalho. O homem vê no seu conjunto de possibilidades um benefício considerável; mas o frenesi do labor testemunha, nele, uma propensão ao mal. No trabalho, o homem se esquece de si; isto não o conduz, apesar disto, a uma doce inocência, mas a um estado vizinho da imbecilidade. O trabalho transformou o sujeito humano em objeto e fez do homem uma besta que trai suas origens. Ao invés de viver por si mesmo - não no sentido do egoísmo, mas do florescimento -, o homem torna-se escravo impotente da realidade exterior. Onde encontrar o êxtase, a visão, a exaltação? Onde está a loucura suprema, a volúpia autêntica do mal? A volúpia negativa que se encontra no culto ao trabalho prende-se antes à miséria, à insipidez e a uma mesquinhez detestável. Por que os homens não se decidem por bruscamente dar fim ao seu labor, a fim de iniciar um novo trabalho sem qualquer semelhança com aquele a que se dedicaram inutilmente até então? Será que a consciência subjetiva da eternidade resistiu? Se a atividade frenética, o trabalho ininterrupto e a trepidação destruíram algo, isto foi o verdadeiro sentido da eternidade - uma vez que o trabalho é a sua maior negação. Quanto mais a perseguição pelos bens materiais e o trabalho cotidiano aumentam, mais a eternidade torna-se distante e inacessível. Daí derivam as perspectivas tão delimitadas dos espíritos muito empreendedores, a insipidez de seu pensamento e de seus atos. E, ainda que eu não oponha ao trabalho nem a contemplação passiva nem o devaneio difuso, mas uma transfiguração irrealizável, eu prefiro uma preguiça compreensível a uma atividade frenética e intolerante. Para despertar o mundo, deve-se exaltar a preguiça. Isto porque o preguiçoso tem infinitamente mais senso metafísico do que o agitado.


(Nos Cumes do Desespero; tradução de Guimarães Silva)


terça-feira, 1 de novembro de 2016

LEI DE NEWTON




(Foto de Emmnuel Thomas)



“Todo corpo persiste em seu estado de repouso, ou de movimento retilíneo uniforme, a menos que seja compelido a modificar esse estado pela ação de forças impressas sobre ele”.



quinta-feira, 3 de março de 2016

A PREGUIÇA, POR ALDOUS HUXLEY







No livro CONTRAPONTO, o casal Mark e Mary Rampion são um exemplo perfeito do contraste entre pobreza e riqueza. Ele, pobretão e culto; ela, nobre, rica e fútil. Casam-se. E passam por todas as etapas de um relacionamento: paixão, amor, fastio etc. No começo, como sempre, tudo são flores. É desse momento que destacamos o seguinte trecho:






Para Rampion havia também uma espécie de obrigação moral de viver a vida dos pobres. Mesmo quando ele já estava tendo um rendimento perfeitamente razoável, o casal mantinha apenas uma criada e continuava a fazer sozinho uma grande parte do trabalho doméstico. [...] Viver como rico, numa confortável abstração dos cuidados materiais, seria – sentia ele – uma espécie de traição à sua classe, à sua própria gente.







[...] Havia ocasiões em que Mark odiava aquela obrigação moral, porque sentia que ela o estava compelindo a fazer coisas tolas e ridículas; e, odiando-a, tentava revoltar-se contra ela. Como ficara absurdamente escandalizado, por exemplo, diante do hábito que Mary tinha de ficar na cama de manhã! Quando ela sentia preguiça, não se levantava e acabou-se. A primeira vez que isso aconteceu, Rampion ficou verdadeiramente angustiado.







- Mas tu não podes ficar na cama toda a manhã – protestara ele.
- Por que não?
- Por que não? Porque não podes.
- Mas eu posso – disse Mary calmamente. – Posso e fico.







Achou aquilo chocante. Sem motivo, como percebeu ele mesmo ao tentar analisar os próprios sentimentos. Mas, apesar de tudo, ficou escandalizado. Ficou escandalizado porque ele sempre se levantara cedo, porque toda a sua gente tinha sido obrigada a deixar sempre a cama cedo. Ficou escandalizado porque não se devia ficar na cama enquanto os outros estavam de pé a trabalhar. Levantar tarde era, de certo modo, uma afronta. E, no entanto, o fato de uma pessoa levantar cedo sem necessidade não auxiliava em nada as outras que levantavam cedo por obrigação. Levantar quando nada nos obriga a isso é simplesmente um tributo de respeito, como descobrir-se numa igreja. E, ao mesmo tempo, é um sacrifício propiciatório para apaziguar a própria consciência.







“Não se deve pensar assim”, refletia Mark Rampion.








[...] E lembrou-se deste verso de Walt Whitman sobre os animais: “Eles não padecem nem se lamentam por causa de sua condição. Não passam as noites em claro, chorando seus pecados”. Mary era assim; era bom ser assim. Ser um perfeito animal e ao mesmo tempo uma criatura humana perfeita, eis o ideal... Apesar de tudo, Mark ficava escandalizado quando Mary não se levantava de manhã. Procurava não ficar, mas ficava. Rebelando-se, permanecia algumas vezes na cama também, até meio dia; por princípio. Era seu dever não ser um bárbaro da consciência. Mas foi preciso muito tempo para que ele pudesse gozar verdadeiramente da sua preguiça.





(CONTRAPONTO; Aldous Huxley 
– tradução de Érico Veríssimo e Leonel Vallandro)