quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

LÓGICA, DE SIDÔNIO MURALHA





A preguiça lentamente,
lentamente a balançar,
parece dizer à gente:
- ora essa! ora essa!
Sou eu que vou devagar
ou você que vai depressa?

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

PREGUIÇA NA CAMA: DORMIR SEM ROUPA





Ela me disse, assim lassa, assim meiga:
- agora me abraça
que derreto como manteiga.
E a preguiçosa devassa, toda bela, toda lua
enfiou a língua ao meu ouvido,
como uma cobra, como uma chama:
- porque durmo, assim, toda nua?
porque, preguiçosa, tenho sempre esquecido,
de comprar um bom pijama.
(Isaias Edson Sidney)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

A PIOR PREGUIÇA




Reclamamos que está uma merda a programação da televisão. Mas... a pior preguiça é não usar o poder do controle remoto, desligar o tubo maldito, pegar um livro, deitar num sofá, numa rede e ler, mesmo que com calma e preguiçosamente, um bom livro...

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

SE NÃO FIZER FRIO...





... deitar na areia, curtir o sol, contar devagarinho as ondas, para vida ficar melhor. Neste feriado, é assim a falta do que fazer, o ócio completo, a modorra e prazer de uma primavera que se esvai através da pele, do dia que cai lento, da lenta viração da tarde...

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

LER... PREGUIÇOSAMENTE!


(Botero)



Num dia de chuva, ou num dia de sol. Não importa. À noite, à luz da lâmpada de um abajur ou em plena claridade do sol. Não importa. Dentro de casa ou no jardim. Num parque. À beira de um lago. Não, não importa. Em qualquer circunstância, ler é mergulhar nos mundos novos a que nossa imaginação nos leva, através das palavras do autor. Romance. Poesia. Teatro. Não importa. Ler é sempre, sempre, muito bom. Mas, ler deitado, nu ou vestido, numa rede, entre duas árvores, num campo relvado ou na cama macia, é muito melhor. Mas, ainda há mais: ler confortavelmente muito... mas muito lentamente... no ritmo das frases, saboreando as palavras, como um veleiro na calmaria, preguiçosamente... isso, sim, é deixar que a vida flua e cultivar o pensamento, sem pressa, sem temor, sem vergonha de ser preguiçoso.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

POEMA SEM COMPROMISSO, DE KÁTIA BENTO





Como é boa a preguiça.
Não sei por que ela está
entre os grandes pecados.
Mas nem quero pensar nisso:
estou muito cansado.


sexta-feira, 30 de julho de 2010

UM BELO POEMA SOBRE O ÓCIO





DE RITA BRANT, FAZER NADA

(john william godward - nu sur la plage)



fazer nada é

namorar a árvore que encontrei no caminho

ouvir o cantar do passarinho

assoviar bem de mansinho

olhar os pingos que escorrem na vidraça

beirar a água estando descalça

sentir chegar a chuva e, então, louvá-la

observar formigas em sua jornada

cheirar a flor e dar uma risada

colocar conchas num balde de praia

balançar a rede na preguiça de uma tarde

ficar de pijama sem fazer alarde

contar estórias que não são de verdade

acompanhar o voar das borboletas

abrir e fechar caixinhas e gavetas

passear de carona em uma lambreta

conversar com as ondas do mar

esperar a estrela cadente passar

dizer eu te amo, assim, sem pensar.

terça-feira, 27 de julho de 2010

FORÇA PARA O ÓCIO



Passou a Copa e ficou aquela preguiça...

Muito sono, rede a balançar, dormir tarde, acordar tarde...

Rotina do preguiçoso.

Agora, de volta, ainda com muita preguiça, mas de volta.

Vamos lá, dar uma força para o ócio e criar alguma coisa que valha a pena.

Só aguardar.

sábado, 5 de junho de 2010

UMA ESPREGUIÇADEIRA...

Não à toa se chama espreguiçadeira. Não à toa amolda nosso corpo, na lassidão de tarde compridas, num jardim de flores perfumadas, num fundo de quintal, numa sala carpetada... Não à toa faz-nos sonhar com ledos tempos de infância, interior, cheiro de café de coador, broa de milho, carinho de mãe. Não pode haver lugar melhor para sonhar: uma espreguiçadeira feita de madeira e lona... leve, colorida e simples, como a vida devia ser, assim, cheia de preguiça.



terça-feira, 18 de maio de 2010

A PREGUIÇA, SEGUNDO LA ROCHEFOUCAULD



De todas as paixões a que nos é mais incógnita é a preguiça. É a mais ardente e a mais maligna de todas, ainda que a sua violência seja imperceptível e que os seus danos se escondam. Se observarmos com atenção o seu poder, notaremos que ela se torna sempre mestra dos nossos sentimentos, dos nossos interesses e dos nossos desejos. Ela é a demora que tem a força para fazer parar os maiores navios, é uma calmaria mais perigosa para as grandes empresas do eu do que os bancos de areia e do que as maiores tempestades. O repouso dado pela preguiça é uma sedução secreta da alma, que pára de repente as lutas mais inflamadas e as resoluções mais obstinadas. Enfim, para se dar uma verdadeira ideia desta paixão, é preciso dizer que a preguiça é como que um estado de beatitude da alma, consolando-a das suas perdas e ocupando o lugar de todos os bens.

La Rochefoucauld, in 'Reflexões'

segunda-feira, 3 de maio de 2010

DIA DE PREGUIÇA





hoje não, amor
que é meu dia de preguiça

sim, eu sei do que tu gostas
eu sei bem como tu gostas
e daqueles jeitos todos
tu me dás, depois, muito cansaço

então, hoje não, amor
que meu dia é de preguiça

sim, eu sei que promessas
foram essas,
que beijos foram depregados
e grudados
e tudo o mais
mas, e depois, amor, e depois?

não, é melhor não, que hoje
é meu dia de preguiça

gosto, sim, amor, quando tua
língua me percorre, quando
tuas umidades me esquentam
quando nua
te abres e te abandonas,
mas, enfim, hoje
não que eu não queira
não que eu não deseje
mas, enfim, é sim, meu dia
meu dia de preguiça

e por ser hoje o meu dia
de preguiça, vem aqui perto
e deixa
que eu te veja, apenas,
que te olhe
que me molhe
só com o pensar
sem tocar,
sem outro tesão
que o dos olhos

claro, amor, amanhã
de manhã, talvez
mas, sim, com certeza,
com absoluta certeza,
amanhã à tarde,
que hoje...

hoje é meu dia de preguiça

terça-feira, 6 de abril de 2010

quarta-feira, 31 de março de 2010

AI! QUE PREGUIÇA...



"Ai! que preguiça...", desabafo-chave que percorre a rapsódia de Mário de Andrade, Macunaíma o herói sem nenhum caráter (1928), sugere na sua aparência marcas de uma certa indolência nativa associada também ao prazer carnal, tendo alcance limitado. Seria assim uma expressão que à primeira vista se encerraria em si mesma. Entretanto, há razões para conjecturar que, ao cunhá-la, Mário de Andrade teve motivações mais complexas, ligadas a seu interesse pelas manifestações do caráter nacional enraizadas na língua. Preocupado em se aproximar de um padrão linguístico que expressasse a identidade cultural brasileira, o escritor pode muito bem ter se atraído pelo recurso sonoro e avançado em muitas direções nessa expressão que forjou e emprestou para desafogo do herói Macunaíma no percurso da rapsódia.

Essa complexidade subjacente que a expressão acolhe tem um rastro na obra do Padre Anchieta, leitura conhecida de Mário de Andrade. Na carta em que faz "a descrição das inúmeras coisas naturais, que se encontram na província de S. Vicente hoje S. Paulo", em fins de maio de 1560, Anchieta observa: "Há outro animal (que os índios chamam Aig, e nós 'Preguiça' por causa de sua morosidade realmente vagarosa [...]".Além da interjeição "ai", o desabafo abriga elementos sonoros que, sem dúvida, fazem reavivar a explicação de Anchieta: Aig ... Preguiça. Dicionários etimológicos, de zoologia e não especializados trazem diversas grafias transliteradas do tupi como sendo equivalentes ao substantivo "preguiça": ai, aí, ahú, aig, aígue. O filólogo Antenor Nascentes registra que esse vocábulo tem origem onomatopaica, traduzindo o som emitido pelo animal que "articula um a fechado, muito prolongado, seguido de i curto e aspirado". A Mário de Andrade, poeta, professor de música, crítico, e pesquisador interessado em zoofonia não devem ter escapado as possibilidades de exploração desse amálgama entre o tupi e o português, abrindo espaço para especular que o refrão não se resume a uma simples interjeição individual, mas pretende reforçar, na mestiçagem linguística e na sonoridade musical, mais um traço expressivo da mescla da nacionalidade. Em Macunaíma, na expressão elaborada de forma poética ecoaria, portanto, o som emitido pelo bicho preguiça, animal emblemático, totêmico, paradisíaco, no entender de Mário de Andrade. De um lado o ai (aig) emaranhando-se nas raízes primitivas de Pindorama e irmanando-se ao ócio criador (sublimado nas artes). Esse ócio tão bem diferenciado por Mário de Andrade em seu artigo de 1918, "A Divina Preguiça", difere daquele sentido de preguiça que traduz a indolência e marca o improdutivo, o inoperante:"Forçoso é continuar, para que o idealismo floresça e as ilusões fecundem, a castigar os que se aviltam no 'far niente;' burguês e vicioso e a exalçar os que compreenderam e sublimaram as artes, no convívio da divina Preguiça!" E é nessa trilha do ócio-criador, propício ao florescimento da poesia, que Mário de Andrade evoca também, nesse mesmo artigo de 1918, o poema ELDORADO, de Edgar Allan Poe, como exemplo de resquício da preguiça divinizada.Vale lembrar, ainda, que as preguiças aparecem no roteiro de seu livro de viagem, O turista aprendiz (1927), no papel de - antepassados dos imaginários índios Do-Mi-Sol, que teriam como peculiaridade comunicar-se por meio da música. E o "turista" Mário de Andrade expande a explicação:"Também poderia por junto da tribo Do-Mi-Sol, outra tribo inferior, escrava dos Do-Mi-Sol, justamente porque falava com palavras como nós, e daí um, estreitamente de conceitos que a tornava muito inferior. Mas por intermédio desta tribo, poderei criar todo um vocabulário de pura fantasia, mas com palavras muito mais sonoras e de alguma forma descritivamente expressivas onomatopaicamente expressivas, dos meus sentidos". Nessa trilha, não se pode esquecer também que, ao se despedir da cidade de São Paulo, Macunaíma a transforma em pedra, na imagem do bicho preguiça, como que totemizando-a:"- Pouca saúde e muita saúva, os males do Brasil são... Enxugou a lágrima, consertou o beicinho tremendo. Então fez um caborge: sacudiu os braços no ar e virou a taba gigante num bicho preguiça todinho de pedra. Partiram."O feitiço de Macunaíma resguardará no bicho-estátua sua tradição cultural, trazendo uma vez mais presente aquela "Lenda do aparecimento do homem" contada pelos índios Do-Mi-Sol. O "ai! Que preguiça..." embute, portanto, o desejo ancestral, o princípio de prazer e o de realidade, em níveis distintos, além de sugerir, entrançados na musicalidade da língua e na expressão feita, seu hibridismo e, metaforicamente, uma fratura, a consciência cindida, o traço de divisão de nossa identidade cultural.



(Este artigo, de Maria Augusta Fonseca, foi extraído, com alterações feitos pela própria autora, do ensaio A CARTA PRÁS CAMIABAS, em MÁRIO DE ANDRADE, MACUNAÍMA O HERÓI SEM NENHUM CARÁTER. Edição crítica de Telê Porto Ancona Lopez, Unesco/Edusp, Coleção Archivos, 1996 (1988), pp. 229-245. Maria Augusta é professora de Teoria Literária de Literatura Comparada, na USP. Estudiosa e pesquisadora do Modernismo brasileiro, tem livros publicados sobre Oswald de Andrade e ensaios sobre Mário de Andrade.)

http://www.klickescritores.com.br/pag_materias/materias9_2.htm

sexta-feira, 19 de março de 2010

DISSE-O BEM, BERTRAND RUSSEL




"Quero dizer, com toda seriedade, que muitos males estão sendo causados ao mundo moderno pela crença na virtude do trabalho, e que o caminho para a felicidade e a prosperidade está em uma diminuição organizada do trabalho.

A moral do trabalho é a moral do escravo e o mundo moderno não precisa de escravidão."

( Bertrand Russell - Elogio ao Ócio)

quinta-feira, 11 de março de 2010

AH! UM BOM COCHILO!




Não tem hora, não tem lugar, não tem idade!

domingo, 28 de fevereiro de 2010

EM DEFESA DA PREGUIÇA, DE ROBERTO GOMES



Mário de Andrade tinha 25 anos quando escreveu um texto de três páginas que publicou no jornal paulistano A Gazeta no dia 3 de setembro de 1918. O título: “A Divina Pre­­guiça”. É um texto pouco citado e, desconfio, pouco lido. O que é curioso, já que a exclamação de Macunaíma – “Ai, que preguiça!” – é repetida como um bordão consagrado sempre que se fala a respeito do herói sem ne­­nhum caráter. O romance Macu­naíma foi publicado em 1928, portanto Mário teve pelo menos dez anos para virar e revirar em sua mente as ideias que lançou no artigo em que sintetiza uma crítica ao trabalho, um elogio do ócio e uma divinização da preguiça. Mas não se trata de qualquer preguiça, nem de qualquer ócio ou de qualquer trabalho.

A data em que o artigo foi publicado é importante, pois na Europa a Primeira Guerra Mun­­dial ainda rugia – terminaria dentro de três meses. O horizonte a partir do qual Mário enfoca a questão são os descaminhos que levaram à guerra e os princípios segundo os quais se pensa a civilização. Por isso o artigo inicia lembrando a oposição que habitualmente é feita entre momentos “de progresso, de estacionamento e de eras em que a civilização volta atrás”, equívoco que Mário combate. “Na passagem das civilizações” – diz ele – “como na própria vida, tudo é marchar”.

Um dos sintomas desses descaminhos, anteriores “ao famigerado agosto de 1914”, ele vai encontrar, num corte cirúrgico, nas práticas cientificistas da época. Ou, nas suas palavras: “a propensão que tinham os cientistas de explicar as faltas e os vícios dos homens por meio de doenças e de atavismo”. Entre tais faltas e vícios destaca-se a preguiça, espécie de avesso de um mundo em progresso e movimento constante, com o acúmulo de riquezas e de novas tecnologias de dominação do homem e do mundo. O projeto capitalista precisava de ação e produção – motivo pelo qual a preguiça deveria ser acusada de vício, senão de crime. E os “cientistas” – mais precisamente os psiquiatras – se prestaram de imediato a esse papel.

Mário, “folheando as eruditas páginas de Austregésilo sobre a ‘Preguiça patológica’”, ri dos cientistas. Lembra que a loucura, ao longo da história, teria sido para alguns um dom divino e para outros um pecado mortal; agora, estaria acuada, “reduzida a um morbo de nova espécie!”
A preguiça deixa de ter a nobreza vinda dos deuses e o peso trágico derivado das misérias humanas. Perdeu a grandeza. Já não seria possível agradecer seu usufruto aos deuses ou penitenciar-se nos confessionários. “Sem regalo nem culpa, resumia-se a uma doença!” Os preguiçosos eram doentes sem grandeza e nada se esperava deles ou da preguiça. Toda “mandranice” se reduzia ao “mesmo morbo”.

É interessante como, no início do século, Mário desenvolve uma análise que só será pensada plenamente após a década de 1960, quando se tomará consciência dos mecanismos através dos quais o que ameaça ou contradiz o projeto capitalista deverá ser apontado como entrave à disciplina dos corpos. Isso só se ouvirá com Marcuse, Foucault etc. Há antecedentes, é claro. Um deles, O Direito à Preguiça, publicado em 1848, de Paul Lafargue, genro gaiato de Karl Marx. E vale lembrar que, em 1882, Machado de Assis, no notável O Alienista, havia apontado o exercício de poder que parece umbilicalmente colado ao discurso científico. A fabricação do louco, em Machado de Assis, passa pelo exercício de poder do psiquiatra positivista.

Mário e Machado estão, nesse caso, décadas antes de seu tempo.

Assim, reduzida a uma doença, a preguiça deve ser calada. E curada, talvez em estações de águas. Depois dessa terapia, ironiza Mário: “a humanidade voltaria ao labutar diuturno da vida!”.

Mário ressalta que em diferentes momentos da história a preguiça foi vista de forma diversa. Na Grécia, por exemplo, e em Roma. O ócio era aí respeitado, pois se sabia que era a partir dele que os poetas e filósofos criavam literatura e pensamento. O conhecimento, seja na geometria ou na engenharia, precisava não apenas de mão de obra e de muito suor, mas também de quem pudesse resolver questões aparentemente desvinculadas de qualquer aplicação prática. Como se sabe, os gregos tinham grande desprezo pelos trabalhos manuais, o que lhes permitia uma sociedade escravocrata. E sabiam que, ao se tornarem livres do trabalho servil, os homens se tornaram capazes de criar artes plásticas ou literárias, ciência e conhecimento. Aristóteles e Platão assinalam com clareza o papel do ócio na criação artística e filosófica. Mário pensa da mesma forma ao dizer que a arte “nasceu porventura dum bocejo sublime” e o “belo e a arte são a descendência que perpetua e enaltece o ócio”.

Com o cristianismo – que, contrariamente ao escravismo grego e romano, postula a igualdade teórica entre todos os homens, filhos e imagem de um mesmo Deus – a preguiça vai sofrer um deslocamento. Foi transformada em pecado. “Mas, diz Mário, já não é a mesma preguiça”. Ela é um vício quando se torna enfraquecimento, tibieza, o abandono das “lutas e das porfias”. Essa “inércia lânguida” é a porta aberta aos pecados. É isso que o cristianismo combate, mas devemos lembrar que, no isolamento dos mosteiros, monges se dedicam a longos momentos de reflexão, produzindo textos religiosos, filosóficos, copiando e ilustrando textos, reinventando a pintura, o conhecimento, até alcançar os patamares a que chegou a filosofia e a pintura no século 13.

A necessidade de se sentir livre do trabalho servil é essencial, sabem os medievais, para a geração do conhecimento, tanto que esse irá renascer quando o fundamentalismo dos primeiros séculos se abrandar. O Renas­­cimento recuperará o ideal clássico grego ao final desse longo processo.

Mário, diante dos desastres da guerra – movida por ambição, ganância e desejo de poder – se recusa a abrir mão da preguiça. “Mil vezes não!”, exclama ele. Justamente nesse momento em que se anseia pelo seu fim, poderá ocorrer a transformação civilizatória “para que o idealismo floresça e as ilusões fecundem”. Seria o “Sésamo, abre-te” do qual ele fala.

Portanto, nada de dar ouvidos aos “psiquiatras” que “querem trazer à preguiça mais essa qualificação de doentia, redimindo os ócios culposos, vulgarizando os ócios salutares! Revoltemo-nos! A preguiça não pode ser reduzida a uma doença!”

A preguiça tem um papel fundamental a desempenhar, portanto. A divina preguiça, criadora, bocejo sublime, será a parteira dos novos tempos.

No entanto, se Mário escrevesse, não em 27 de agosto de 1918, mas nessa morna quinta-feira de 19 de novembro de 2009, penso que ele teria um problema a mais.

Hoje circula muita desconversa a respeito do assunto. O chamado mundo corporativo – que se apropriou de algumas categorias com as quais a filosofia pensou a questão do trabalho e do ócio – vulgariza um discurso que, desinteressado do verdadeiro ócio e da divina preguiça, busca transformar trabalhadores em criaturas maleáveis, acomodadas às felicidades do consumo, ao projeto de ganhar mais, ter prestígio e sucesso. Enfim, ócio incorporado à produção.

Trata-se de uma perversão da divina preguiça. Imagino que Mário de Andrade reclamaria. É preciso estar alerta: o ócio e a preguiça têm um valor absoluto, caso contrário se perdem como instrumento de manipulação nas mãos de quem manda.

A divina preguiça injeta, nas ações humanas, um antídoto contra toda servidão ao trabalho. É o espaço aberto à criatividade, à liberdade, capaz de dar aos homens a sensação de plenitude que só o reencontro de si mesmo pode proporcionar. Sem lucros e sem utilidades oportunistas – apenas pela realização do que há de melhor no ser humano. Pouco importa que seja exercida no domínio da técnica, da ciência, das artes ou do conhecimento de si mesmo, aquilo que os gregos chamavam de autonomia.

Eis onde nos levam as intuições geniais que Mário de Andrade lançou em seu artigo de 1918.
Agora, se alguém ainda dirige à preguiça ou ao ócio um olhar de desconfiança, lembro mais um paradoxo: não é fácil encontrarmos quem tenha trabalhado mais do que Mário de Andrade. Ou quem trabalhou mais do que Picasso ou Pasteur.

Mas é um trabalho de outra ordem – erotizado, como dizia Marcuse, ou, “no convívio da divina Preguiça”, como escreveu Mário.


* Roberto Gomes é colunista da Gazeta do Povo e autor de vários livros, entre eles, o romance Júlia (Editora Leitura).

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O “GURU” DO ÓCIO

Não gosto da palavra “guru”. E odeio todos os gurus. Mas estou com preguiça demais para procurar outro termo. Então, vai esse mesmo.
O “guru” do ócio é DOMENICO DE MASI. O italiano sabe do que está falando. Tem idéias muito interessantes. Então, é melhor tirar a bunda da cadeira ou a cabeça do travesseiro e, de vez em quando, procurar algo para fazer. E o melhor a fazer é comprar (de preferência pela internet, que dá menos trabalho) o livro do Domenico, voltar a bunda para a cadeira (espreguiçadeira, de preferência) ou a cabeça pra o travesseiro (melhor se for numa rede) e ler este livro:

sábado, 13 de fevereiro de 2010

A DIVINA PREGUIÇA – II



Segue a segunda e última parte do artigo do Pedro Bondaczuk:

O artigo “A divina preguiça” foi publicado por Mário de Andrade no jornal “A Gazeta” de São Paulo, da Fundação Casper Líbero, em 3 de setembro de 1918. Antecede, portanto, ao livro “Macunaíma”, escrito dez anos depois. O texto jornalístico e o romance, portanto, não têm nenhuma relação, a não ser certa identidade temática.

Este “herói sem caráter”, aliás, é utilizado, por muitos, como uma espécie de símbolo do brasileiro (ou seu estereótipo, o que é mais correto afirmar). Ele sim era dotado daquele tipo de preguiça condenável, que a palavra, sempre que mencionada, traz, de imediato, à mente. Não é ele, portanto, o que recomendo.

Em certo trecho da referida crônica, o escritor paulistano chega a sugerir: “A arte nasceu porventura de um bocejo sublime, assim como o sentimento do belo deve ter surgido duma contemplação da natureza”. E respondam-me, com sinceridade: “Quem nunca teve esse tipo de ‘preguiça’”?!

Discordo, todavia, de Paulo Prado ao caracterizar o brasileiro como Macunaíma em potencial. Num texto seu, muito conhecido, dá a entender que os males do Brasil seriam: “um patriotismo fofo, leis com parolas, preguiça, ferrugem, formiga e mofo”. Essas características, convenhamos, podem ser encontradas em pessoas de qualquer país do mundo. Não têm nada a ver com nacionalidade.O historiador, e secretário do Ministério de Cultura, Célio Turino, escreveu um excelente texto a propósito do artigo de Mário de Andrade, intitulado “O herói sem nenhum trabalho”, publicado em 1° de fevereiro de 2007, cuja leitura recomendo a quem puder ter acesso a ele. É muito esclarecedor.

Já Eneida Maria de Souza observa, em “A preguiça - mal de origem”, que o escritor paulistano (um dos maiores intelectuais do seu tempo) entendia que a condição de ociosidade era válida, sobretudo, ao gesto de meditação, de descontração do intelecto, “a uma certa maneira de filosofar e de exercitar um saber paciente, calmo, desprovido do caráter utilitário de outro tipo de trabalho”.

Em carta escrita ao seu tio Pio, datada de 1933, Mário de Andrade confessou: “Tenho o dom espantoso e bem raro de me considerar feliz (...) A paz dos justos, a serenidade dos experientes, a generosidade dos superiores e aquela concepção de vida que não de alegria se alimenta, mas de amorosa contemplação e paciência, que por isso mesmo não é nem alegre, nem triste, mas é maravilhosamente sábia”.

Esse ócio digno e sereno é a coroação da utopia dos que idealizam a sociedade perfeita, igualitária e justa, em que ninguém precise sequer trabalhar, por todos terem garantida a satisfação das suas necessidades vitais. Na concepção desses delirantes sonhadores, o homem terá todo o tempo do mundo para dedicar-se, apenas, às artes, à filosofia e à expansão do que tem de mais nobre: sua capacidade de pensar e, sobretudo, de imaginar.

O que Mário de Andrade sugere, portanto, não é a preguiça, no sentido usual do termo. Não é a inércia, a acomodação ou a omissão. Longe disso. É, sim, um tempo benigno de reflexão, sem nenhum outro tipo de preocupação para atrapalhar e, sobretudo, de contemplação. Esse tipo de “divina preguiça” é o que também mais quero, sem dúvida. Quem não quer?

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

A DIVINA PREGUIÇA – I



Este o título de um artigo de Pedro J. Bondaczuk, do qual transcrevo os primeiros parágrafos:

“A palavra preguiça tem, com razão, conotação bastante negativa. Caracteriza a indolência, a falta de vontade de trabalhar, de agir e até de pensar. Em última análise, rotula o máximo da omissão. O sujeito preguiçoso quer tudo pronto ao seu dispor, sem se dispor a fazer coisíssima nenhuma, se possível nem se mover para comer, exigindo que outros lhe ponham comida na boca.

Fosse o mundo depender de pessoas assim, estaríamos perdidos. Há, porém, um sentido nobre para o termo, que raramente alguém utiliza, por causa do seu significado mais popular e pejorativo. É aquele estado de descontração total, de absoluto relaxamento, ideal para nos reparar as forças físicas e/ou mentais. É o que os romanos chamavam de “ócio com dignidade”.

É nesse estado que surgem algumas idéias, impossíveis de nos visitar quando estamos tensos, ativos e/ou excitados. Foi a ele que Mário de Andrade dedicou instigante texto, que denominou de “A divina preguiça”. Ademais, outros tantos escritores, como Paul Laforgue (genro de Karl Marx) e Bertrand Russell, também escreveram a respeito e traçaram essa distinção.”

(http://pedrobondaczuk.blogspot.com/2009/04/divina-preguica.html)

Como veem, preguiça também é assunto de filósofos, poetas e escritores. Por isso, não se envergonhem de curti-la, e bem, pelo menos de vez em quando. No próximo post, publico o resto do artigo...

Bateu uma preguiça!

domingo, 7 de fevereiro de 2010

DOMINGO É DIA...



“Domingo é dia
de pescaria,
e lá vou eu
de caniço e samburá...”

Assim começava uma marchinha antiga de carnaval.


Acho que pescaria dá muito trabalho para se fazer num domingo. Então, melhor que pescaria, domingo é dia mesmo é de uma boa preguiça.


(Ilustração: foto da internet, sem crédito)

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

OS PAULISTANOS, QUEM DIRIA, TINHAM PECHA DE PREGUIÇOSOS!

Aproveite algum momento de ÓCIO, para ler o artigo abaixo. Vale a pena. Mesmo que seja devagar, para não se cansar muito.





Durante muito tempo, o trabalho era restrito aos escravos. Mas a Coroa portuguesa tinha planos para erradicar a ociosidade na Colônia.


Maria Helena Ochi Flexor



No fim do século XVIII, Luís dos Santos Vilhena, professor de grego na cidade de Salvador, definia a preguiça como a qualidade daqueles que eram capazes de ação, mas preferiam o descanso, e com muita dificuldade decidiam sair dele. A ociosidade era um atributo das pessoas que trabalhavam, mas pouco. Já a vadiagem era própria daqueles que andavam perambulando pelas vilas, sem trabalho, vivendo de divertimentos e crimes, sem meio de vida conhecido. Vilhena achava que essas atitudes eram vícios e, portanto, contrárias aos bons costumes e merecedoras de reprovação.

Um século antes, o poeta Gregório de Mattos – o “Boca do Inferno”, cuja pena ferina atingiu e incomodou muita gente de seu tempo –, como membro de família abastada, fazia parte da classe social que tinha direito institucional à ociosidade. Talvez por isso, aqueles que, como ele, não eram muito apegados ao trabalho raramente tenham sido alvo de suas críticas mordazes: em toda a sua obra conhecida, só há uma referência a um personagem vadio, um barbeiro.

A diferença entre o modo como Gregório de Mattos e Luís dos Santos Vilhena enxergavam o trabalho e o ócio se deve ao início de uma mudança na mentalidade da sociedade em relação a essas questões. A mesma oposição pode ser encontrada entre Pedro Taques, autor da Nobiliarquia paulistana histórica e genealógica, que enobreceu seus ilustres antepassados paulistas, e o juiz da Alfândega Marcelino Pereira Cleto, que escreveu suas memórias entre 1782 e 1814, e que ressaltava a preguiça provocada pela abundância da pesca no litoral de São Paulo, considerando seus habitantes bem mais vadios que os do planalto.

A nova visão, que exaltava as benesses do trabalho, era influenciada pelo pensamento europeu da época. Provavelmente, a pequena glaciação que atingiu parte do continente entre 1400 e 1700, trazendo invernos mais longos e temperaturas mais baixas, provocou um grande impacto na agricultura, nas florestas, na saúde (associada à peste bubônica), na economia e na sociedade. Nos séculos XV e XVI também haveria uma grande mudança nas artes, no artesanato e na cultura em geral, fenômeno que resultou no que se conhece por Renascimento.

As viagens de descobrimentos representavam também uma forma de atenuar os males causados pelos fenômenos climáticos no Velho Mundo. Traziam-se condimentos do Oriente para conservar alimentos. As trocas de mudas de plantas e animais com outros povos – entre as inúmeras conquistas – visavam multiplicar ou substituir os alimentos desaparecidos de algumas regiões da Europa. O impacto disso, sobretudo na agricultura e no pastoreio, fez com que os europeus iniciassem um processo de revisão de seus conceitos que culminou com a valorização da agricultura e do comércio como atividades dignas. Até então, o trabalho não era visto como uma virtude.

Outras transformações, que culminariam com a Revolução Francesa, seriam gestadas durante boa parte do século XVIII, provocando mudanças que levaram muitos reinos a trocar a monarquia absolutista por governos constitucionais. A valorização do trabalho foi um fator essencial nesse câmbio de mentalidade, que levaria a uma outra revolução – a Industrial.

No Brasil também houve mudanças significativas. O comércio de Portugal com o Oriente começava a declinar em meados do Setecentos. D. José I e seu ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, o conde de Oeiras (mais tarde marquês de Pombal), implementaram um projeto de reformas administrativas, econômicas, sociais, religiosas, educacionais e políticas. Dentro desse projeto, a Coroa se mobilizava para realmente colonizar o Brasil, tomando posse do território e povoando-o, fato decorrente do Tratado de Madri, de 1750, com a Espanha.

A decisão resultou na criação de inúmeras vilas, povoações, freguesias; em sua maioria, antigas aldeias indígenas dos jesuítas, dos franciscanos e dos carmelitas. Para implantar o projeto, foram escolhidos homens de inteira confiança do conde de Oeiras, como seu meio-irmão Francisco Xavier de Mendonça Furtado, enviado para governar o Estado do Grão-Pará e Maranhão. Seriam nomeados ainda juízes de fora, ouvidores e engenheiros das comissões de demarcação de fronteiras. Estes permaneceriam por nove ou dez anos em seus postos, para garantir a execução do que fora planejado.

No Brasil, começou uma intensa luta contra a ociosidade e a preguiça. O trabalho passou a ser valorizado e algumas atividades foram incentivadas, a começar pela agricultura, seguida pelo comércio. As autoridades foram rigorosas, em discursos e ações, no combate ao hábito negativo: eram dadas penas pesadas a quem tivesse em casa homens vadios sem avisar as autoridades.

Os primeiros habitantes das vilas deveriam ser vadios e criminosos de pequenos delitos, e, majoritariamente, índios. Para reforçar o povoamento, foram trazidos colonos dos Açores, da Madeira, do Norte da África e da região do Minho, em Portugal. Dentro dessa política de ocupação do território, foi dada liberdade aos índios, que se tornaram vassalos, procurando europeizá-los, fazê-los falar a língua portuguesa e viver em “sociedade civil”. Isto significava viver em um núcleo urbano, onde poderiam receber os sacramentos, ter moradia unifamiliar, aprender a ler e escrever, ou um ofício mecânico, e a se vestir como os civilizados.

Evidentemente, os índios também teriam ocupações regulares, para produzir excedentes e comercializá-los. Desta forma, desenvolveriam a ambição e, conseqüentemente, a noção de lucro, para poderem comprar escravos e aumentar sua produção.

Para fixar os habitantes ao solo, foi proibida a exploração do ouro, sendo confiscados todos os instrumentos dos ourives e proibido o exercício da profissão. Estabeleceu-se que de forma alguma se deveria explorar o ouro, por ser a atividade motivo de muita vadiação e pobreza. Aqueles que não permaneciam nos novos núcleos urbanos eram considerados desertores. Todos precisavam de passaporte para transitar entre as comarcas e capitanias, uma exigência destinada a evitar ficassem vagabundeando de um lugar para outro.

D. Luís Antônio de Souza Botelho Mourão, o Morgado de Mateus, governador de São Paulo, testemunhava que dois vícios dominavam o povo e eram, além de pecados, causa da sua pobreza: a presunção e a preguiça. Dizia não ter palavras para expressar o excesso a que chegaram esses dois vícios. Em seguida, constatava que a grande maioria dos homens e mulheres não fazia nada: ficavam deitados de dia e de noite, balançando-se na rede ou cachimbando, e afirmavam desprezar o trabalho, deixado para os pretos, que lhes proporcionavam o que comer. Aqueles que trabalhavam o faziam às escondidas, porque seriam malvistos. O governador de São Paulo atribuía o atraso da agricultura à vadiagem e à preguiça, às vendas a crédito e à existência de escravos.

Os habitantes da América sabiam que suas terras lhes davam alimentos em abundância onde se semeasse, sem ser necessário plantar em roças de mata virgem. O que impedia o sucesso das atividades agrícolas era a suma preguiça e a negligência, não só dos índios, mas também dos filhos do Reino que, por desprezarem o trabalho, o abandonavam aos escravos. Muitos portugueses não tinham intenção de permanecer no Brasil, daí não se estabelecerem nem buscarem trabalho fixo para ter rendas. Partiam para as colônias espanholas em busca da prata.

Embora os índios fossem considerados os mais preguiçosos, devido à sua visão de mundo peculiar, os portugueses não fugiam a essa pecha. Ainda em 1538, o humanista Clenardo, escrevendo de Lisboa a seu amigo Latônio, afirmara que em Portugal a agricultura era vista com muito desprezo. Para ele, o elemento que formava o “nervo principal de uma nação” ali era de grande debilidade, pois se havia “algum povo dado à preguiça sem ser o português”, então não sabia onde existia.

A maioria dos núcleos urbanos criados no Brasil não progrediu. Podem ser citadas diversas causas: a mentalidade do português que vinha para cá, a subordinação de umas regiões a outras, o número restrito de habitantes e sua dispersão. Relatos da segunda metade do Setecentos acusavam a falta de capitais, a presença da escravatura que causava “mais anemia, a indolência dos habitantes”. Fazia-se referência também a um dos mais graves constrangimentos sociais, a corrupção.

Vários autores, em diversas regiões, condenavam veementemente a vadiagem. O marechal Arouche de Toledo Rendon (1756-1834) chegou a afirmar que “a vadiação só por si é um crime público dos mais prejudiciais ao Estado e, por consequência, não há nisto infração dos direitos da liberdade, porque nenhum vassalo pode eximir-se das leis da sociedade e nenhum pode ter o direito de, em boa saúde, sustentar-se à custa dos demais, como sucede com todos os vadios”. As idéias de alguns destes autores buscavam justificar, ainda no fim do Setecentos e mesmo no século XIX, o confinamento e a escravidão indígenas.

Os forros e os mestiços, mesmo depois de livres, nunca deixaram de estar ligados à visão que se tinha da escravidão. Atribuía-se ainda ao índio a culpa por muitos brancos terem sido contagiados pela falta de ambição que negava o trabalho. O índio, confinado pela má compreensão de sua visão de mundo e de seu tipo de vida, não teve muitas chances e, em geral, não conseguiu absorver as noções de ambição, civilidade, trabalho e espaço dos brancos.

Uma das formas de coibir os ociosos e os preguiçosos era recrutá-los, dispensando os trabalhadores. Em algumas capitanias, ficou estabelecido que para todos os serviços, inclusive os reais, deviam ser convocados os vadios e desimpedidos, e, em caso de necessidade, os que trabalhavam na agricultura, mas que fossem escolhidos os que não fizessem falta.

Passou-se a convocar, normalmente, os ociosos para as tropas. Por exemplo, para a conquista de novos lugares, como Ivaí, Rio Pardo, Iguatemi, este chamado de “cemitério dos paulistas”, deviam ser chamados, antes dos próprios militares, os solteiros vadios e os casados que não tivessem domicílio, sob pena de terem que sentar praça forçadamente.

Rendon achava que as milícias deviam ser formadas somente por índios, e que fossem dispensados os que trabalhassem nas paradas e obrigações públicas. Achava que se os capitães- mores corruptos e os vadios sentissem medo do recrutamento, então se dedicariam ao trabalho. Entretanto, até o Império verificou-se que essa estratégia não teve resultados. Rendon se justificava dizendo que o trabalho forçado “ao longo do uso lhe há de formar uma nova natureza”.

No fim do século XVIII, com o aumento da agricultura e do comércio, dizia-se que a inércia e a preguiça estavam contidas. O Brasil finalmente entrava na competição do mercado externo. O otimismo, entretanto, só mostrava uma pequena mudança de mentalidade e certa valorização do trabalho. Os índios continuariam a ter fama de preguiçosos e ariscos ao trabalho e os serviços braçais seguiriam sendo considerados “indignos” e restritos às classes baixas, cujo suor garantiria, ainda por muito tempo, os lucros e o bom descanso das elites.


Maria Helena Ochi Flexor é professora emérita da Universidade Federal da Bahia e professora da Universidade Católica do Salvador (UCSal); é autora do artigo “A ociosidade, a vadiagem e a preguiça: o conceito de trabalho no século XVIII”, Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Salvador, no 95, p. 73-89, 2000.Revista de Historia da Biblioteca Nacional


http://historianovest.blogspot.com/2009_04_01_archive.html

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

DOENÇA, NÃO!



Atenção, preguiçosos!


Vamos deixar bem claro: se você tem estes sintomas:
  • Sono excessivo;
  • Falta de concentração e comprometimento da memória recente;
  • Dores musculares;
  • Dor de garganta;
  • Gânglios inflamados e dolorosos;
  • Dor em múltiplas articulações, sem sinais inflamatórios;
  • Fraqueza freqüente que persiste em 24 horas após a prática de exercícios físicos.

ISTO NÃO É PREGUIÇA! ISSO É DOENÇA, E TEM NOME: SÍNDROME DA FADIGA CRÔNICA (SFC).

Aqui, neste espaço, vamos falar de PREGUIÇA, vamos falar do ÓCIO, ou seja, nada de doença de quem trabalha demais e não tem tempo para curtir uma boa preguiça.

E estamos combinados.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

ATIRE A PRIMEIRA PEDRA



Atire a primeira pedra quem nunca teve preguiça. E preguiça não é pecado, não! Nem doença.

Preguiça é o estado natural do homem e da mulher, depois de uma tarefa, ou mesmo, antes.


Gozemos, pois, o ócio.


Tenhamos, pois, preguiça.


Aqui, neste espaço, tudo o que se refere à preguiça - desde Macunaíma até Domenico di Masi – será publicado.


Mesmo que, às vezes, preguiçosamente...


É isso aí: relaxe, mas não goze, que gozar dá trabalho!

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

domingo, 24 de janeiro de 2010